do ut des

26 de Fevereiro


A grande arte moderna é sempre irónica, tal como a antiga era
religiosa. Assim como o sentimento do sagrado radicava
as imagens para além do mundo da realidade, dando-lhes um
futuro e antecedentes prenhes de significado, a ironia descobre
nas imagens e sob elas um vasto campo de jogo intelectual, uma
vibrante atmosfera de hábitos imagísticos e raciocinantes, que
transforma as coisas representadas em símbolo de uma realidade
mais significativa. Para ironizar não é necessário brincar (assim
como para sagrar não é necessário recorrer à liturgia), basta
construir as imagens segundo uma norma que as supere ou domine.
(...)


Ofício de viver (1942)
Cesare Pavese

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