O Matadouro

Primeiro levaram-nos ao farol, de onde podíamos ver a vista
panorâmica. A seguir pasmávamos os olhos no pátio renascentista
do palácio presidencial, daqui levava o nosso caminho até uma fonte
de água medicinal, onde - encorajados pelo nosso guia - todos
provámos a água acidulada, mas ressuscitada, da fonte. Voltámos
para o autocarro. O altifalante descreveu as belezas do centro
da cidade, depois parámos em frente da Galeria Nacional de Pinturas.
Eu vi a colecção inteira de esculturas, mas depois fiquei cheio
de dores e segui à frente. Os outros viram alguns quadros
de Rembrandt e de Brueghel.
- Agora - disse o altifalante - vamos ver a instituição mais moderna
da nossa cidade, o matadouro. O massacre dos animais realiza-se
através de métodos tão humanos e nobres, que não só as senhoras
mais sensíveis, mas mesmo as crianças, podem assistir à vontade.
Passámos por um átrio enorme. Tudo estava iluminado, entre
as paredes ouvia-se música baixa que não foi interrompida por
nenhum rugido ou grunhido. O nosso percurso foi desde o sítio
da pesagem até ao local onde marinavam o fiambre e era tudo
muito diferente daquilo que eu tinha imaginado antes. Não vi animais
emperrados, bufados, recuados, nem rapazes robustos que abatem
com o machado. O gado para abate, os porcos, os carneiros
perfilavam-se em corredores brancos e, numa sala grande, sem
serem aplicados neles quaisquer tipo de choques eléctricos,
ou drogas, ou gás tóxico, pouco a pouco ficavam com sono,
deitavam-se e, sem dar nas vistas, passavam desta para melhor,
como na foz desliza um barco para a água parada.
Puxei o guia para o meu lado.
- Queria pedir-lhe um favor - disse eu.
- Infelizmente, não pode ser - respondeu.
- Tenho motivos de peso - disse eu.
- Todos têm motivos de peso - disse ele.
- Agradecia o seu favor.
- Já me prometeram fortunas - disse ele.
- Aos carneiros é permitido? - perguntei.
- Lamento - disse ele. - Rigorosamente proibido.


István Örkény, Histórias de 1 minuto.
Tradução de Piroska Felkai.

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